Todos os países que têm uma indústria naval forte tiveram um dia de destinar subsídios ao setor. Foi assim com o Japão e a Coréia do Sul, hoje os maiores produtores de navios do planeta. Só que lá, ao contrário daqui, estabeleceram-se exigências técnicas e prazos que obrigaram a indústria a ganhar eficiência e a se tornar independente do governo. Na primeira tentativa feita no Brasil de alavancar o setor, nos anos 60 e 70, foram todos à bancarrota assim que a fonte estatal secou. Agora, mais uma vez, é o governo, via Petrobras, que anuncia um investimento de nada menos que 9,6 bilhões de reais na área. Enquanto isso, o João Cândido continua emperrado – um monumento à incompetência a lembrar com que facilidade se pode lançar ao mar o dinheiro dos contribuintes.
Mão de obra do EAS questionada
“O primeiro petroleiro nacional encalhou. É no que dá trocar as leis do mercado pela ideologia”. Revista Veja, Edição 31 de agosto de 2011
Com o título ” DINHEIRO AO MAR”, a Revista Veja coloca em questionamento a qualidade da mao de obra do Estaleiro Atlântico Sul localizado em Suape(PE), e ao mesmo tempo denuncia uma grande ” politicagem” para inaugurar o primeiro navio petroleiro construído no Brasil. Abaixo o texto da reportagem da Revista Veja:
A foto acima, de 7 de maio de 2010, retrata uma cena explorada à exaustão na campanha de Dilma Rousseff. Com pompa e circunstância. O então presidente Lula, com Dilma no palanque, exibia no Porto de Suape, em Pernambuco. O primeiro navio petroleiro construído no Brasil em catorze anos. Tudo teatro eleitoral. Tão logo a platéia se foi a embarcação voltou ao estaleiro e de lá nunca mais saiu. O que poucos sabiam até agora é que o vistoso casco do João Cândido – um portento planejado para transportar 1 milhão de barris de petróleo através dos continentes e que custou à Petrobras 336 milhões de reais (o dobro do valor de mercado) – escondia soldas defeituosas e tubulações que mal se encaixavam. Corria o risco de desfazer-se em alto-mar.
Concebido para ser o primeiro de uma série de 41 navios. Símbolo do renascimento da indústria naval, o petroleiro precisou ser parcialmente refeito. O término da reforma está prometido para as próximas semanas, mas técnicos ouvidos por VEJA afirmam que, dado o histórico de trapalhadas, o calendário pode atrasar.O João Cândido é o epítome da estratégia petista de privilegiar a todo custo mão de obra e fornecedores brasileiros como forma de fomentar os setores petrolífero e naval – a tal política do conteúdo nacional. De acordo com ela, no caso da construção de um navio, pelo menos 65% do valor final deve ser gasto no país.
Trata-se de uma regra que despreza a inteligência e o bom uso do dinheiro público, como bem ilustra o episódio do João Cândido. Foi o governo que patrocinou, por meio do BNDES, a criação do Estaleiro Atlântico Sul, encarregado de erguer esse e mais 21 petroleiros. Seus principais sócios são as empreiteiras Camargo Corrêa e Queiroz Galvão, que já fizeram todo tipo de obra, mas nunca montaram nem sequer uma lancha.
Dada a magnitude do projeto, seria preciso que contratassem mão de obra altamente especializada. Mas quase todos os 2000 operários recrutados – incluídos aí canavieiros, donas de casa e sacoleiros da região estavam montando um navio pela primeira vez. “Com um contingente tão inexperiente, seria impossível não haver erros”, diz Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura.